terça-feira, 9 de junho de 2009

ENTREVISTA - VALÉRIA RISTICCI - BIÓLOGA - ATUA E MONITORA A ÁGUA NO MÉDIO TIETÊ - CABREÚVA ATÉ BARRA BONITA


VALERIA MIGUEL RUSTICCI
DEPTO DE MEIO AMBIENTE DO SERVIÇO AUTÔNOMO DE AGUAS E ESGOTOS DE ITU


Valéria M Rusticci é Diretora do Departamento de Águas e Esgotos do Municípoio de Itu e foi a idealizadora e coordenadora da implantação do gerenciamento pleno dos resíduos sólidos urbanos de Itu, incluindo Gerenciamento dos resíduos domiciliar, comercial e industrial.
Coordenou o Programa de Coleta Seletiva de Itu, executado pela COMAREI – Cooperativa de Materiais Recicláveis de Itu e foi responsável pela implantação do programa de Educação Ambiental para uso racional da água e programa de saneamento de Itu.
Executou o Programa de Educação Ambiental e Gerenciamento Operacional de Cooperativas de Materiais Recicláveis nas Cidades de Mairinque e Guarujá.
Atualmente, coordena os Programas da Fundação SOS Mata Atlântica, Centro de Educação Ambiental da Estrada Parque, Programa de Mobilização Ambiental, Observando os rios Sorocaba e Médio Tietê, de Cabreúva até Barra Bonita e coordena o Programa de Educação Ambiental Água das Florestas Tropicais.

Na impossibilidade de nos deslocarmos até Itú, Salto e região, a Sra. Valéria Rusticci nos foi indicada pela Fundação SOS Mata Atlãntica, pois ela é quem coordena os grupos de monitoramente da qualidade da água na região do Médio Tietê, de Cabreúva até Barra Bonita, portanto, fonte fundamental, pois a imprensa tem noticiado que é na região que já se percebe os resultados positivos do Projeto Tietê.

A Sra. Valéria Rusticci nos cedeu esta entrevista por email, em 09 de junho de 2009.

Por João Elias

01- Desde quando você está envolvida com o Projeto Tietê?
Desde 2000, quando participei de um grupo de monitoramento no ponto da Estrada Parque Itu e desde então, estou envolvida em questões ambientais e de sustentabilidade.

02- O que a levou a se envolver com questões ambientais?
Minha adolescência ocorreu na época da retomada da democratização, com a promulgação da Constituinte em 1988 e a realização da Rio 92.
Eu tinha alguns professores muito envolvidos com a causa social e ambiental na época que e fui me encantando pelo tema, pelas causas ambientais e após o término do ensino médio, decidi fazer Ciências Biológicas para trabalhar na área de conservação ambiental.
Sou voluntária desde meus 17 anos e pude presenciar a Eco 92 e de lá para cá, participo da militância ambiental e agora, como profissional ambiental.

03- Você atua em Itu e Salto?
Desde que fui contratada pela SOS Mata Atlântica, tenho coordenado o trabalho de 36 grupos de monitoramento da bacia do Médio Tietê, que vai de Cabreúva até Barra Bonita, abrangendo também a bacia do rio Sorocaba, um importante afluente do Tietê e os grupos estão distribuídos por estas cidades todas.

04- Qual a sua atuação e como se dá, o que realmente faz em relação ao Projeto Tietê?
Como mencionei, coordeno todos esses grupos, todos membros da SOS, na sua maioria, alunos de ensino médio e ou universitários, para que estejam preparados e mobilizados durante todo o mês.
Os grupos coletam a água mensalmente e fazem as análises, de acordo com a metodologia da Rede das Águas (Kit SOS).
As atividades que eles realizam é de fundamental importância, pois fortalece a idéia da gestão, da participação e principalmente da preservação dos recursos hídricos nas bacias que controlam, e mais, atre o olhar para os acontecimentos e todos estão de olho não só na água, mas com tudo que está relacionado a preservação da natureza, as agressões e impactos ambientais que presenciam.
São fiscais da natureza, espalhando a importância de cuidarmos melhor "do nosso quintal".

05- Quais os resultados positivos que o Projeto Tietê já trouxe e que é percebido em Itu e Salto principalmente?
O monitoramento em Itu começou em 2000 e posso dizer que até 2003 o Tietê apresentava uma qualidade muito ruim NOVE meses por ano.
Hoje, em 2009, temos avançado bastante na qualidade e podemos considerar que a qualidade das águas é aceitável NOVE meses por ano.
Isto nos faz acreditar que os investimentos do Projeto, nas obras realizadas na Região Metropolitana de São Paulo já pode ser percebida sim neste trecho do rio.
Nos ponto de Itu, as corredeiras é que auxiliam na oxigenação e melhoria da qualidade da água e isto ocorre durante nove meses e nos outros três meses é a época da estiagem, diminuindo a força da água e a força das corredeiras e o rio fica mais calmo.
Em Salto é melhor ainda e antes de chegar a foz do rio Jundiaí, podemos notar que as corredeiras da Estrada Parque também colaboram na oxigenação e diluição da poluição e a qualidade se mantêm aceitável o ano inteiro.
Desta forma, posso afirmar que a tendência é melhorar cada vez mais e quanto mais esgoto for coletado e tratado em São Paulo, melhor será para o interior e para o Tietê como um todo.

06- Em Pirapora, pessoas que moram às margens do Tietê são contra o Projeto, pois alegam que se o Tietê ficar limpo, serão tirados de lá, para dar lugar para os Condomínios de luxo.
Na região onde atua, existem pessoas contrárias ao Projeto na região? Se sim, quem são e o que alegam?

Não, não existem, pelo menos esta informação nunca chegou até nenhum dos 36 grupos que coordeno. Todos estão empenhados e conscientes dos ganhos que um rio saudável trará para toda a sociedade.

07- É verdade que a mancha de poluição já reduziu uns 120 Km?
Acredito que sim, pois nosso contato com os grupos da cidades de Porto Feliz e Tietê nos dizem que todos os anos assistem a PIRACEMA acontecer e isso indica que o rio volta a ter vida, que os cardumes de peixes estão cada vez mas perto, avançando no sentido da Capital. Infelizmente não consegui uma foto da piracema para enviar.
Em Porto Feliz a pesca voltou e por lá, segundo os grupo, não se pescava a muitos anos.

08- Em Itu e Salto, desde que ano não se pesca? Quando os peixes deixaram de aparecer?
Desde 1980 que não se pesca na região.

09- A imprensa noticiou que a pesca voltou em Itu? Isto é verdade?
É verdade sim, tem alguns corajosos pescando por aqui, porém, a Cetesb ainda alerta que não dispõe de informações suficientes para atestar que o peixe é de boa qualidade para o consumo, pois a água ainda está contaminada, não está totalmente limpa.

10- Quanto as margens do Tietê, a população tem acesso ao rio ou é como em São Paulo, onde as marginais impedem esta aproximação?
Aqui os acessos estão preservados, inclusive com muita mata ciliar protegendo o rio.

11- Você acredita que o despoluição do Tietê trará que tipos de melhorias para a região?
A melhoria no abastecimento de água potável já seria suficiente, mas sabemos que tem muitas outras coisas importantes ligadas ao Tietê vivo, limpo, com saúde.

Postado por João Elias, em 09 de junho de 2009.

sábado, 6 de junho de 2009

ENTREVISTA - ANDREA FERREIRA - SABESP



Andrea Ferreira - Gerente do Depto de Planejamento e Controle - TGC
SABESP - Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo


Entrevista cedida em 05 de junho de 2009

Por João Elias
Foto: João Elias

O1- Fale um pouco do envolvimento da Radio Eldorado e da SOS Mata Atlântica com o Projeto Tietê. Como elas atuam e como se dá à parceria com a Sabesp?
Eles estão envolvidos desde antes do Projeto e hoje, acompanham o Projeto de muito perto e nos cobram resultados.

Eles estão no Projeto antes do Projeto existir, pois foram eles que iniciaram as ações que geraram o abaixo assinado pedindo pela despoluição do Tietê.
Não sabemos do dia a dia deles e sabemos que ambos estão atuantes e de olho não só no Tietê com em outros grande projetos ambientais.

02- Quanto ao trabalho de monitoramento da água realizado pela SOS, a Sabesp recebe os informativos ? Se sim, o que a Sabesp faz diante dos resultados?
Não, nós temos mecanismos próprios e as análises em nossos laboratórios.
Sem que realizam um trabalhao de Educação Ambiental muito eficiente.

03- No que se refere à educação ambiental, o que a Sabesp tem realizado?
A Sabesp realiza várias ações em várias frentes, temos o Clubinho Sabesp que conscientiza crianças, enfim, o Depto de Marketing tem feito grandes avanços neste sentido.

04- Como a Sabesp analisa o atraso nas obras e o não cumprimento dos prazos ? Porque isto ocorreu?
Uma grande obra requer planejamento, estudos de impacto ambiental, desapropriações e tivemos que aguardar os financiamentos.
Assim que tudo foi resolvido, o Projeto decolou e segue num ritmo muito bom.

05- Vocês ficaram sabendo sobre a existência de peixe na região de Itú e Salto? A Sabesp enviou alguém nas cidades para checarem a informação?
Acompanhamos pela imprensa e é um bom sinal de que estamos no caminho e nos próximos anos as coisas serão mais perceptíveis. Aos poucos chegaremos nos objetivos que motivaram esta obra grandiosa.

06- Quanto a diminuição da mancha de poluição, como era e como está hoje?
Dizem que recuou 120 Km, que bom e quanto maior o volume de esgoto que conseguirmos coletar e tratar, mais esta mancha irá recuar e no final da terceira etapa, que inicamos agora em 2009, com previsão de término para 2015, ela deverá recuar mais uns 40 Km.

07- Diante dos resultados positivos já obtidos, o que a Sabesp faz com as informações?
Continuamos trabalhando e sabemos que este é o caminho, porém, tem muita coisa pra fazer, já estamos pensando na quarta etapa do Projeto...e esta obra não terá fim.

08- Dizem que em 2011 ou 2012 já teremos peixe no rio Pinheiros. A Sabesp acredita nesta afirmação? Se não, quando isto deverá ocorrer?
Não e certamente não foi daqui que saiu esta informação. Acreditamos que um dia isto acontecerá mas em 3 ou 4 anos isto será impossível.

09- Como a Sabesp analisa o descaso com nossos mananciais, principalmente a Guarapiranga e a Billings? Porque permitiram que a situação chegasse ao ponto que está, a população morando praticamente dentro da Represa?
É lamentável e é uma responsabilidade das Prefeituras.
Nós temos sérias dificuldades para atuarmos nessas regiões e muitos domicilios não estão ligados a rede de coleta, nos recebem mal e na região é até difícil de instarmos novas redes.
A situação é complicada, mas certamente encontrarão um caminho para que tudo se resolva bem.

09.1- Porque nada foi feito quando perceberam que as pessoas estavam invadindo essas áreas?
Não nos envolvemos com questões que não nos compete e como disse, é uma responsabilidade das Prefeituras. A Sabesp fornece água e coleta esgoto.

10- Quanto à afirmação de que o Tietê estará despoluído em 25 ou 30 anos. A Sabesp acredita neste prazo ou qual seria o prazo cogitado pela alta cúpula?
Não nos preocupamos com datas, mas sim com trabalho e sabemos sim que isto ocorrerá e se a sociedade nos ajudar, o prazo diminui.
Precisamos ligar o maior número possível de residências a rede coletora de esgoto, tratá-lo, antes de lançá-lo em qualquer rio.

11- A imprensa divulgou que tínhamos perto de 1.250 indústrias poluidoras do Tietê na RMSP e que esse número caiu para perto de 290.
Dizia à matéria que dentre essas indústrias estão shoppings e hipermercados, os quais não são monitorados. Porque isto ocorre?
Porque não monitorar, autuar, multar e fechar indústrias que não cumprem a lei?

A Cetesb é quem cuida desta questão e somente eles poderiam responder.
O que sabemos é que estão fazendo um bom trabalho e muita coisa é especulação da mídia, informações sem fundamento, sem confirmação.

12- Quanto as 1.250 indústrias, a mídia divulgou também que a carga de poluição diminuiu porque muitas dessas empresas foram embora de São Paulo ou fecharam e que somente 607 estão na região. O Projeto divulga informações falsas?
Sabemos que algumas empresas saíram, mas outras entram no lugar e isto ocorre em qualquer região.

13- A Cetesb diz que essas 290 indústrias deveriam ser monitoradas e que o BID destinou US$ 5 milhões para este fim, porém, isto não aconteceu e a Sabesp destinou este valor para outras obras do Projeto e que por esse motivo, em Dezembro de 2006, a Cetesb resolveu sair do Projeto, na sua segunda etapa.
Porque mudaram o destino da verba?
Se foi por necessidade, porque depois não deram continuidade a parceria com a Cetesb?

Nos temos tudo isto documentado e na verdade, repassaríamos US$ 2.8 milhões e a Cetesb entraria com os outros US$ 2.2.
Como não conseguiram dentro do prazo, a Sabesp aplicou o valor no Projeto.

14- Não seria prudente a Sabesp se entender com a Cetesb, visto a importância dos trabalhos que eles realizam e sabendo que o sucesso do Projeto também está ligado ao monitoramento dos efluentes das indústrias?
Isto já foi resolvido e a Cetesb está atuante, fazendo seu bom trabalho.

15- A imprensa divulga que agora o esgoto doméstico é o principal poluidor do Rio Tietê, somado ao lixo que é jogado nas ruas, o qual acaba chegando aos rios.
Porque então a Sabesp, a Secretaria de Saneamento, o Governo do Estado e a Prefeitura não realizam uma campanha forte e periódica na mídia local, nos horários nobres por exemplo?

O Depto de Marketing é quem cuida destas questões e sei que televisão custa muito dinheiro e preferimos investir em obras.

16- Quanto ao Projeto Tietê, porque não vemos o Projeto sendo divulgado na TV?
Investimos em obras de saneamento e a divulgação acontecerá expontaneamente.
Pode demorar um pouco, mas ela acontecerá.

17- A imprensa divulgou que alguns municípios não estão participando do Projeto. Isto é verdade? Quais são eles? E o que fazem com seu esgoto? São coletados e tratados?
Algumas são parceiras e algumas são autônomas. Tem empresa própria que cuida da Água e do Esgoto e algumas conseguem tratar 100% e outras não tratam nada e vai tudo direto para o rio.

18- Uma outra notícia que circulou foi sobre Guarulhos, dizendo que o município não trata 100% do seu esgoto e joga tudo no rio.
Isto é verdade? Isto não é um crime ambiental? Não é caso de polícia?
Dizia ainda a notícia, que depois de muita briga do Ministério Público, Guarulhos assinou um acordo para a universalização da coleta e tratamento do esgoto e que pediram um prazo de 30 anos. Isto é verdade?

A situação está regularizada e estaremos atuando com Guarulhos nas próximas etapas.

19- A imprensa divulgou também que com a ajuda do PAC, este prazo poderá cair para uns 5 anos e que a obra foi orçada em US$ 550 milhões e o PAC arcaria com metade desse valor.
Se o problema é dinheiro, isto não foi previsto no início do Projeto?
Como funcionou a estruturação do Projeto com relação aos municípios envolvidos, banhados pelo Tietê? Porque Guarulhos ficou de fora?

Os casos mais complicados tiveram atenção em separado e tudo está sendo muito bem resolvido. Não existe um Prefeito que não deseje coletar e tratar o seu esgoto e a Sabesp faz isto muito bem.

20- A imprensa divulgou também que em 2007, Itaquaquecetuba teve que apelar para o Ministério Público para obter ajuda da Sabesp e implantarem um plano específico para o Município, o qual só conseguia tratar 5% do seu esgoto. Isto é fato?
Qual a realidade de Itaqua hoje? A cidade é parceira do Projeto?
O esgoto está sendo encaminhado para a ETE de São Miguel?

Tivemos problemas iniciais, tudo foi resolvido e Itaqua faz parte da terceira etapa do Projeto. Realizaremos grandes obras por lá.

21- Uma outra notícia que circulou dizia que a Estação de Tratamento do ABC é sub utilizada e que poderia receber o esgoto que será levado para Barueri.
Diz a nota que construíram uma obra gigantesca na Marginal Pinheiros para levar o esgoto que era jogado no Rio Pinheiros para ser tratado em Barueri. Porque não é levado para o ABC?

ETE ABC atende o ABC e seria impossível levar o esgoto de Pinheiros até lá.
A distância pode ser menor, mas questões técnicas invializam esta operação e nossos engenheiros souberam equacionar esta questão e decidiu-se que Barueri seria o destino mais correto.
Com as intervenções feitas nas margens do Pinheiros, toda a região e a Billings serão beneficiadas e o esgoto deixa de ser lançado no Pinheiros, o qual já começará a sentir a melhora na qualidade da água.

22- Em 2015, no final da terceira etapa a Sabesp espera coletar que percentual da carga de esgoto - 92%? E quanto ao tratamento, qual será o percentual - 82%?
Estas são as expectativas e quem sabe, este percentual não poderá ser ainda maior.
Se a sociedade colaborar, vamos coletar e tratar um volume maior.
Estaremos ampliando as Estações e prontos para fazer nossa parte.

23- No caso do percentual coletado, se tudo estará ligado e funcionando, o que seria esse percentual faltante, os 8%? E quanto ao tratamento, o que seria esse percentual faltando de 18% que não será tratado?
São os domicílios que não estão ligados na rede e quanto ao tratamento, são regiões que não tem ligações que levem o esgoto para estações de tratamento.

24- Como e quando será a quarta etapa do Projeto?
Estamos em cima deste projeto, atuando forte na terceira etapa, porém, nos preparando para a quarta, a qual será divulgada em momento oportuno.

25- Existe algum projeto em andamento para quando o Tietê estiver limpo?
No caso da RMSP, as marginais impedem o acesso da população ao rio.
O que acontecerá com as Marginais?

Não é competência nossa e São Paulo precisa das marginais.
Sabemos que será iniciada uma obra inclusive, para construção de mais pistas.

Postado por João Elias, em 09 de Junho de 2009